Para que os preços alcancem esse nível, bastariam mais problemas de oferta ou maior produção de aço chinesa.
O maior consumo de aço com a recuperação global após a recessão causada pela pandemia pode elevar a cotação do minério de ferro para nível recorde, enquanto as maiores mineradoras do mundo se esforçam para atender a forte demanda.
As expectativas apontam que os preços de referência podem chegar a US$ 200 a tonelada, superando o recorde de US$ 194 atingido há mais de uma década, já que siderúrgicas chinesas aumentam a produção e desafiam as tentativas do governo de controlar a oferta para limitar as emissões de carbono do setor. Essa tendência coloca ainda mais pressão no mercado de minério de ferro, que ainda não se recuperou totalmente do choque de oferta há mais de dois anos.
“Os preços do minério de ferro podem subir no curto prazo, e ultrapassar US$ 200 a tonelada é definitivamente possível”, disse Kim Christie, analista sênior da consultoria Wood Mackenzie. Para que os preços alcancem esse nível, disse, bastariam mais problemas de oferta ou maior produção de aço chinesa.
Por trás da alta de 14% do minério de ferro no mês passado, o que ajudou a impulsionar o rali das commodities, está o aumento dos preços do aço da Ásia à América do Norte. O foco particular tem sido a China, onde a economia se expande e medidas destinadas a despoluir a maior indústria siderúrgica do mundo elevaram a rentabilidade das usinas para o maior nível em mais de uma década.
“O que essas margens altas fazem é incentivar as usinas a acumularem estoques e usarem mais minério de alto teor para aumentar a produtividade”, disse Erik Hedborg, analista do CRU Group. “Vemos um pouco de ‘demanda adicional de minério de ferro’ com o objetivo de aumentar os estoques.”
Os futuros do minério de ferro na Bolsa de Cingapura avançaram 0,4%, para US$ 186,50 a tonelada na quarta-feira, em meio ao baixo volume de negociações devido ao feriado na China.
O preço de referência do minério de ferro à vista com teor de 62% estava em US$ 187,20 a tonelada na sexta-feira, enquanto o minério com teor de 65% foi negociado a US$ 223,30. Normalmente, as usinas buscam matérias-primas com maior teor de ferro durante períodos de restrições à produção de aço como forma de reduzir as emissões. Para o Morgan Stanley, as mudanças no lado da oferta na China podem alterar a demanda por minério premium, e os diferenciais de teor não devem se normalizar tão cedo.
O Citigroup espera que os preços de referência atinjam US$ 200 em questão de semanas. Haverá um déficit de 18 milhões de toneladas durante os três primeiros trimestres de 2021 em meio à maior demanda global por aço e pequena queda dos embarques das principais mineradoras. A previsão anterior do banco era de excedente de 1 milhão de toneladas.
BHP e Rio Tinto disseram no mês passado que os embarques trimestrais caíram devido a problemas relacionados ao clima na Austrália, embora ambas tenham mantido as projeções anuais. A Vale produziu menos minério do que o esperado, destacando os desafios para aumentar os volumes após o rompimento da barragem de Brumadinho no início de 2019.
Cortes da produção
A China deve produzir mais de 1 bilhão de toneladas de aço pelo segundo ano seguido, apesar das restrições de produção em várias províncias. As recentes mudanças do governo nos descontos para tarifas de exportação não devem ser suficientes para frear a produção, segundo Christie, da Wood Mackenzie.
“Se a China quiser desacelerar a produção de aço, precisa moderar a demanda doméstica”, que é altamente focada em construção, disse Christie. “Esperamos ver medidas adicionais do governo destinadas a esfriar a demanda por aço, especialmente no setor imobiliário, e isso provavelmente será o catalisador para uma correção dos preços do minério de ferro.”